A Anemia Dela se Transformou em Câncer no Sangue - Histórias de Pacientes | CARDIO DF

Você não vai acreditar no que aconteceu com Milena, 34 anos. Ela tinha dois filhos pequenos e trabalhava em um escritório de contabilidade. Então a vida era bem corrida.

 E recentemente, estava se sentindo cada vez mais cansada. 

Mas ela sabia que tinha alguma coisa errada. Quando eu falo cansada, era exageradamente cansada, algo fora do comum. 

Ela decidiu buscar ajuda em um posto de saúde perto da sua casa para entender o que estava acontecendo. 

O médico, recém-formado, a atendeu rapidamente e, após um exame físico básico, diagnosticou anemia. 

Ele prescreveu sulfato ferroso e a mandou para casa, sem sequer solicitar um simples hemograma completo. 

Parece algo comum, certo? Mas você não vai acreditar no que aconteceu depois disso.

 Mesmo tomando os medicamentos, conforme prescritos, os sintomas de Milena não melhoraram. 

Na verdade, os sintomas pioraram, e ela começou a desenvolver infecções recorrentes: dor de garganta, sinusite e candidíase. 

E é aí que sua jornada realmente começa. Quando ela chegou até nós, apresentava manchas roxas na pele, conhecidas como petequias, que indicavam algo muito mais grave. 

Essas petéquias são pequenas hemorragias sob a pele, que aparecem quando as plaquetas estão muito baixas, indicando um problema grave no sangue. 

Um simples hemograma completo revelou o que a gente já suspeitava… os glóbulos brancos dela estavam 10 vezes acima do normal: 72.000 leucócitos.

 As plaquetas dela estavam extremamente baixas, com apenas 18.000, o que explicava as petequias.

 O médico havia acertado, ela realmente estava anêmica, com uma hemoglobina de apenas 6,0, que é extremamente baixa. 

Mas ela não estava apenas anêmica; ela tinha leucemia, um câncer no sangue. E esse é o assunto do post de hoje: o que é leucemia? Quais os tipos, quais os tratamentos. 

Mas também vou falar sobre anemia, suas causas e como melhorar. Vai ser bem completo e interessante. Acho que você vai gostar!


Você sabe o que é anemia? 

Anemia é uma condição em que o corpo não tem glóbulos vermelhos saudáveis suficientes para transportar oxigênio adequadamente para os tecidos. 

E você sabe que as hemácias são responsáveis por carregar oxigênio do pulmão para todo o corpo

 Elas carregam oxigênio do pulmão para todo o corpo: para seus cabelos, para sua pele, para seu coração e até para o seu dedão do pé.

Quando o corpo não tem hemácias suficientes, tudo isso começa a falhar. Você começa a se sentir cansado.

 Esse cansaço inicial é diferente de uma fadiga comum; é aquela sensação de exaustão que não passa, mesmo com repouso. Você se sente fraco de verdade.

 E então, percebe que está ofegante. Aquela escada pequena que você tem aí na sua casa? Você tem que parar no meio.

 E o cabelo começa a cair… Isso acontece porque seus órgãos e tecidos não estão recebendo oxigênio suficiente.

E quais são as causas mais comuns de anemia? 

Anemia por Falta de ferro:

A mais comum, disparada, é a deficiência de ferro, ou, em termos médicos, a anemia ferropriva. 

Na mulher, é muito comum esse tipo de anemia por causa da menstruação — se você menstrua muito ou tem ciclos muito longos, isso pode acontecer. 

Mas se você tiver hemorróidas, fez uma cirurgia, sangrou o nariz, ou outras causas de perda como vermes, pode acontecer. 

Claro que, para se certificar, o médico pode pedir a dosagem de ferritina, que é a reserva de ferro no seu corpo. 

Se a ferritina estiver baixa, é praticamente certo que a anemia é por deficiência de ferro. 


Anemia megaloblástica

Mas nem toda anemia é causada por falta de ferro. A segunda causa mais comum é a deficiência de vitamina B12 e ácido fólico. 

Essas vitaminas são essenciais para a produção adequada de hemácias, mas atuam de maneira diferente do ferro. 

Quando você tem deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, suas hemácias podem se tornar grandes demais, uma condição chamada de macrocitose. 

Essas hemácias grandes são menos eficientes e acabam causando um tipo diferente de anemia, chamada anemia megaloblástica. 

Para confirmar essa anemia, o médico pode pedir exames específicos para verificar os níveis de vitamina B12 e ácido fólico. 


Outras causas de anemia

Além dessas deficiências, doenças crônicas como insuficiência renal ou doenças autoimunes também podem causar anemia

Mas a Milena tinha anemia, e não era por nada disso…

Na verdade, a causa da anemia da Milena era muito mais séria, e só foi descoberta porque seus sintomas começaram a piorar.

Como falei, fechamos um diagnóstico de leucemia.

E é sobre isso que vamos falar agora.

O que é leucemia?

Leucemia é um tipo de câncer que começa nas células formadoras de sangue da medula óssea. 

Ela faz com que a medula óssea produza uma quantidade anormal de glóbulos brancos, que não funcionam corretamente. 

Os glóbulos brancos são as células responsáveis por combater infecções no corpo. 

Quando esses glóbulos brancos estão defeituosos, eles não conseguem proteger o corpo adequadamente e podem até prejudicar a produção de outras células saudáveis. 

Isso acontece porque a medula óssea é responsável por produzir todas as células do sangue: os leucócitos (glóbulos brancos), as hemácias e as plaquetas. 

Quando os glóbulos brancos defeituosos se multiplicam descontroladamente, eles acabam ocupando espaço na medula óssea e prejudicando a produção de hemácias e plaquetas saudáveis. 

Isso leva aos sintomas que vimos em Milena: anemia por falta de hemácias, infecções frequentes por causa dos leucócitos defeituosos e sangramentos por falta de plaquetas.


Quais os tipos de Leucemia?

Existem vários tipos de leucemia, e eles são classificados de acordo com a rapidez com que a doença se desenvolve e o tipo de célula afetada.

 Os dois principais grupos são leucemia aguda e leucemia crônica. 

Leucemia Aguda

A leucemia aguda é o tipo mais grave, porque pode causar sintomas severos rapidamente e comprometer a saúde do paciente em questão de semanas ou até poucos dias. 

Quais as complicações mais sérias da leucemia aguda? As complicações mais sérias incluem infecções graves, sangramentos incontroláveis e insuficiência de múltiplos órgãos.

Leucemia Crônica

 Já na leucemia crônica, as células são mais maduras, mas ainda assim anormais. A doença progride mais lentamente, e os sintomas podem demorar anos para aparecer. 

Os dois tipos de leucemia, tanto aguda quanto crônica, podem afetar diferentes tipos de glóbulos brancos, resultando em subtipos como leucemia linfocítica e leucemia mieloide


Que tipo de leucemia você acha que a Milena tinha? Aguda ou crônica?

A resposta é leucemia aguda, que é a forma mais agressiva e perigosa da doença.

Por isso, foi crucial que o diagnóstico fosse feito rapidamente para iniciar o tratamento o quanto antes.

Como é o tratamento da leucemia?

O tratamento da leucemia depende de vários fatores, incluindo o tipo específico de leucemia e o estado de saúde geral do paciente.

Milena foi internada de imediato no hospital para começar o tratamento.

O tratamento inicial geralmente inclui quimioterapia para destruir as células leucêmicas na medula óssea e no sangue.

Em alguns casos, como o de Milena, um transplante de medula óssea pode ser necessário.

Como funciona o Transplante de Medula Óssea?

O transplante de medula óssea substitui a medula doente por células-tronco saudáveis de um doador compatível, ajudando a restaurar a produção normal de células sanguíneas.

Para receber o transplante, o paciente é submetido a um tratamento de quimioterapia forte, que ataca as células doentes e destrói a própria medula. 
Então, ele recebe a medula sadia como se fosse uma transfusão de sangue. Uma vez na corrente sanguínea, as células da nova medula circulam e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem.

Apesar de ser ser um procedimento complexo, às vezes é a melhor opção para muitos pacientes com leucemia.

É importante eu dizer que o transplante de medula óssea não está isento de riscos.

Quais os principais riscos do transplante de medula óssea?

Rejeição do Enxerto:

O sistema imunológico do paciente pode reconhecer as novas células como estranhas e atacá-las, resultando na doença do enxerto contra o hospedeiro, que é gravíssima, e muitas vezes fatal.

Infecções:

como o sistema imunológico do paciente vai estar muito fraco, qualquer gripezinha, pode se tornar gravíssima.  

Efeitos Colaterais da Quimioterapia

como náuseas, vômitos, fadiga e perda de cabelo e pode afetar até o coração, deixando o coração fraco ou afetar rins e fígado…

Problemas no Enxerto:

, ou seja, O transplante pode não pegar, e as novas células podem não se estabelecer na medula óssea do paciente.

Mas, para muitos pacientes, esses riscos são superados pelos benefícios do transplante, que pode ser crucial para a sobrevivência e recuperação.

E a Milena fez o transplante! E deu certo!

Ela se recuperou bem, ficou curada! Foi um sucesso!

Mas, talvez a parte mais importante do vídeo, e o motivo de eu ter feito, é o seguinte.
Você precisa de um doador compatível. Muita gente fala em doar sangue. Eu mesmo fiz um vídeo sobre o assunto. Mas pouca gente fala em doar medula.

Sim, é importante a doação de medula óssea.

Se você quiser, procure um Hemocentro para fazer o seu cadastro. 

Lá será coletada uma amostra de seu sangue para a realização da tipagem de seus glóbulos brancos — tipagem HLA.  Para ver se você é compatível com alguém.

Tem um registro brasileiro de doadores não parentes, que pode beneficiar qualquer lugar do mundo.

Quando ninguém da família é compatível, você precisa desses bancos brasileiros ou até mundiais.

Um filho de uma paciente minha descobriu uma leucemia. Ele fez a quimioterapia, mas como o estado dele era sério, os médicos indicaram o transplante. Mas ninguém da família era compatível.

Quando jogaram os dados no banco de HLA, ele era compatível com uma pessoa de outro estado. 

Eles foram até o estado, mas quando ligaram para o doador, ele mudou de ideia — não, não estou a fim. Passa para o próximo da fila.

Mas não tinha próximo da fila. E apesar da quimioterapia, esse jovem morreu. Ele não teve a chance de receber uma doação de medula devido a uma mudança de decisão do doador.

Se o suposto doador ao menos soubesse que com 90 minutos de transplante, com risco praticamente zero, da parte dele, poderia ter salvo a vida de um jovem, com um futuro brilhante pela frente.. Eu acho que se ele soubesse disso, ele teria doado.

Lembre-se, a doação de medula óssea pode salvar vidas!

Meu nome é André Wambier, cardiologista, e esse é o cardiodf.com.br

Muito obrigado!